REFLEXOS DA PANDEMIA: DIAGNOSTICOS E CIRURGIAS DE CANCER DE PROSTATA TEM QUEDA
Para se ter uma ideia, de acordo com uma pesquisa realizada pela Astellas Farma Brasil em conjunto com o instituto Inception, e divulgada com exclusividade pela BBC, 2 em cada 3 urologistas asseguraram que a ida ao consultório diminuiu em 2020.
Pelo levantamento, que consultou 60 especialistas (45 oncologistas e 15 uro-oncologistas) de todas as regiões do país e das redes pública e privada, a maior queda foi relacionada ao rastreamento da doença (entre 10% e 30%).
Em 2019, cada médico diagnosticou em média 89 pacientes com câncer de próstata. No ano passado, esse número baixou para 69. Este ano, 78% dos respondentes acreditam que o diagnóstico será, em média, 34% maior.
Os participantes do estudo indicaram que no período avaliado a realização do exame de toque diminuiu 75%, dos exames de imagem 70%, e da dosagem do PSA 45%. O acompanhamento da patologia, no caso das pessoas já diagnosticadas, também baixou, em torno de 2%.
Para 38% dos profissionais, o volume de pacientes deve voltar ao normal entre 6 meses e 1 ano. Já 27% acham que isso acontecerá entre 3 e 6 meses, 18% entre 1 e 3 meses, 10% mais de 1 ano e 7% imediatamente.
Outro levantamento, este feito pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) com base em dados do Ministério da Saúde referentes ao SUS, também revelou redução no rastreamento e tratamento do câncer de próstata como consequência da Covid-19: 21,5% nas cirurgias, 27% na coleta de PSA, 21% na realização de biópsia e 15,7% nas interações.
Em relação às consultas com um urologista, foram realizadas 2.816.326 em 2020 contra 4.232.293 em 2019. Este ano, elas seguem baixas: até julho, foram apenas 1.812.982.
No Estado de São Paulo, dados da SBU – Seção de São Paulo coletados junto a cinco instituições responsáveis pelo atendimento de pacientes do sistema público – Hospital Amaral de Carvalho, de Jaú; Instituto do Câncer da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto; Hospital A.C.Camargo Cancer Center, de São Paulo; Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Hospital São Paulo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) – mostrou queda de 33,41% no diagnóstico de novos casos de câncer de próstata em 2020.
Roberto Soler, urologista e diretor médico da Astellas Farma Brasil, assinala que essa redução geral se deu por uma conjunção de fatores “Nos primeiros meses da pandemia, as pessoas se fecharam em casa, e aí acabaram postergando a marcação de consultas e a realização de exames, deixando para fazer isso quando o risco de contaminação pelo coronavírus fosse menor. Além disso, os próprios hospitais, clínicas e consultórios suspenderam por um período os procedimentos eletivos.”
Em se tratando especificamente do câncer de próstata, há ainda um agravante, aponta Marcelo Wroclawski, urologista e vice-presidente da SBU – Seção de São Paulo: o preconceito que os homens têm em relação ao exame de toque retal, importante para o rastreamento da enfermidade, e o medo do tratamento, pois muitos acreditam que invariavelmente sofrerão com algum tipo de disfunção sexual ou urinária em decorrência dele.
“É preciso acabar com esse tabu de que o exame pode afetar a masculinidade. É a mesma coisa que encostar um estetoscópio no peito para auscultar o coração ou colocar um palito na língua para ver a garganta. E em relação às complicações da doença, elas podem acontecer, mas é preciso deixar claro que houve um grande desenvolvimento tecnológico na saúde nos últimos anos, diminuindo significativamente essas ocorrências”, afirma o médico.
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