
Dia Nacional do Luto
Embora não haja uma lei específica que institua um “Dia Nacional do Luto” para toda e qualquer perda, o dia 19 de junho tem sido informalmente reconhecido e celebrado por algumas instituições e setores da sociedade como o Dia Nacional do Luto. Essa data busca conscientizar a sociedade sobre a importância de refletir e acolher os sentimentos que envolvem as perdas ao longo da vida, sejam elas a morte de um ente querido, o fim de um relacionamento, a perda de um emprego ou qualquer rompimento de vínculo significativo.
A ideia por trás dessa data é promover um espaço para a compreensão do processo do luto, que é uma experiência individual e complexa. Muitas vezes, a sociedade impõe “regras” sobre como, quando e por quanto tempo se deve expressar o luto, o que pode levar a “lutos não reconhecidos” – aqueles em que o sofrimento do indivíduo não é validado socialmente. O 19 de junho, portanto, serve como um lembrete da necessidade de empatia, escuta acolhedora e apoio àqueles que estão em processo de luto, independentemente da natureza da perda.
Paralelamente à celebração informal do 19 de junho, o Brasil possui a prática do luto oficial, que é uma declaração formal de pesar por parte de uma autoridade legalmente constituída (Presidente da República, Governador ou Prefeito). O luto oficial é decretado em situações específicas, como:
- Falecimento de personalidades importantes: Chefes de Estado, figuras de grande relevância política, cultural ou social.
- Grandes tragédias: Eventos que resultam em grande número de mortes ou impactam profundamente a nação.
Quando o luto oficial é declarado, as bandeiras são hasteadas a meio mastro em todo o território abrangido pelo decreto (nacional, estadual ou municipal), e, em alguns casos, pode haver suspensão de atividades públicas, embora não configure feriado. A duração do luto oficial varia, podendo ser de um a sete dias, ou até oito dias em caso de falecimento de um Presidente da República, por exemplo.
É importante notar que existem esforços legislativos para criar dias de luto com enfoques específicos. Um exemplo recente é o projeto que visa instituir o dia 17 de outubro como o Dia Nacional de Luto e Memória às Mulheres Vítimas de Feminicídio, que foi aprovado pela Comissão de Educação do Senado e aguarda análise na Câmara dos Deputados. Essa iniciativa demonstra a crescente necessidade de criar marcos temporais para refletir sobre perdas específicas que impactam a sociedade.
Além disso, a Lei Nº 15.139, sancionada em 2025, estabelece a Política de Humanização do Luto Materno e Parental, assegurando assistência humanizada a mães e pais que enfrentam a perda de um bebê. A norma também estabelece outubro como o Mês do Luto Gestacional, Neonatal e Infantil, com foco na conscientização. Essa legislação representa um avanço significativo no reconhecimento e acolhimento de um tipo de luto muitas vezes silenciado.
Vivenciar o luto é um processo fundamental e inegável da experiência humana diante da perda. Negar ou reprimir o luto pode ter consequências graves para a saúde física e mental do indivíduo a longo prazo. A importância de passar por esse processo reside em diversos aspectos:
- Elaboração da Perda: O luto permite que o indivíduo processe e compreenda a realidade da perda. É um tempo para assimilar que a pessoa ou a situação não estará mais presente da mesma forma, adaptando-se a essa nova realidade.
- Reorganização Emocional: A perda gera um turbilhão de emoções – tristeza, raiva, culpa, negação, medo, ansiedade, entre outras. Vivenciar o luto é permitir que essas emoções se manifestem, sejam sentidas e, gradualmente, gerenciadas. Reprimi-las pode levar a transtornos de ansiedade, depressão e até problemas de saúde física.
- Ressignificação da Vida: O luto não é apenas sobre a morte, mas sobre a vida que continua. Ao vivenciar o luto, o enlutado tem a oportunidade de ressignificar sua existência sem a presença do que foi perdido, encontrando novas formas de ser e viver, e reconstruindo sua identidade.
- Homenagem e Despedida: É uma forma de honrar a memória do que foi perdido, seja uma pessoa, um relacionamento ou uma fase da vida. Rituais de despedida, como velórios e cerimônias, são importantes para a formalização da perda e o início do processo de luto.
- Crescimento Pessoal: Embora doloroso, o luto pode ser uma oportunidade de crescimento. Muitos enlutados relatam um aumento da resiliência, uma maior apreciação pela vida e uma reavaliação de prioridades após a superação de uma grande perda.
O luto é um processo único e individual, sem um tempo ou uma forma “certa” de ser vivenciado. No entanto, algumas estratégias e abordagens podem auxiliar o enlutado:
- Permitir-se Sentir: É crucial que o enlutado se dê permissão para sentir todas as emoções que surgirem, sem julgamento. Chorar, expressar raiva, sentir confusão – tudo faz parte do processo.
- Buscar Apoio Social: Compartilhar a dor com amigos, familiares ou grupos de apoio pode ser extremamente terapêutico. A conexão com outras pessoas que entendem ou que passaram por experiências semelhantes oferece conforto e validação.
- Manter Rotinas (quando possível): Embora a perda possa desestruturar a vida, tentar manter algumas rotinas diárias pode oferecer um senso de normalidade e estabilidade.
- Cuidar da Saúde Física: A dor emocional pode impactar o corpo. É importante cuidar da alimentação, do sono e, se possível, praticar atividades físicas, pois isso contribui para o bem-estar geral.
- Expressar o Luto de Diferentes Formas: O luto pode ser expresso através da fala, da escrita (diários, cartas), da arte (pintura, música), da oração ou de rituais pessoais. Encontrar uma forma de canalizar a dor pode ser curativo.
- Paciência Consigo Mesmo: O processo de luto leva tempo, e haverá dias bons e dias ruins. É importante não se cobrar uma “recuperação” rápida e entender que o luto não é linear.
- Buscar Ajuda Profissional: Se a dor for avassaladora, persistente, ou se o enlutado sentir que não consegue funcionar, buscar a ajuda de um psicólogo, terapeuta ou psiquiatra é fundamental. Terapia de luto, em particular, pode oferecer ferramentas e suporte especializados.
O apoio do entorno (família, amigos, colegas, comunidade) é vital para o enlutado. A forma como as pessoas se relacionam com o indivíduo em luto pode facilitar ou dificultar o processo:
- Oferecer Presença e Escuta Ativa: Muitas vezes, a melhor ajuda é simplesmente estar presente, sem a necessidade de dar conselhos ou “soluções”. Escutar o enlutado sem julgamento, permitindo que ele expresse sua dor, é um gesto poderoso de apoio.
- Validar os Sentimentos: Evite frases como “você precisa ser forte”, “já passou da hora de seguir em frente” ou “ele(a) está em um lugar melhor”. Em vez disso, valide a dor: “Eu imagino o quanto isso deve ser difícil”, “É normal sentir tudo isso”.
- Oferecer Ajuda Prática: No luto, tarefas diárias simples podem se tornar exaustivas. Oferecer ajuda prática, como cozinhar, cuidar de crianças, fazer compras ou organizar documentos, pode aliviar um peso enorme.
- Manter Contato a Longo Prazo: O apoio inicial é importante, mas o luto dura. Continue entrando em contato com o enlutado nas semanas e meses seguintes, não apenas nos primeiros dias. Datas especiais (aniversários, feriados) podem ser particularmente difíceis.
- Respeitar o Espaço e o Tempo: Algumas pessoas precisam de mais solitude, outras precisam de mais companhia. Respeite o ritmo e as necessidades do enlutado, sem forçar interações ou isolamento.
- Ajudar a Lembrar: Permita e incentive o enlutado a falar sobre o que foi perdido. Compartilhar memórias, histórias e qualidades da pessoa falecida, por exemplo, ajuda a manter a conexão e a processar a perda.
- Evitar Clichês e Comparações: Frases prontas ou tentar comparar a dor do enlutado com a sua própria experiência podem soar vazias ou diminuir o sofrimento alheio.
- Reconhecer a Busca por Ajuda Profissional: Se o enlutado buscar ajuda de um terapeuta, apoie essa decisão. Isso mostra que ele está cuidando de si mesmo e buscando as ferramentas necessárias para lidar com o processo.
Existem muitos livros e filmes que abordam a temática da perda, do luto e da resiliência, e que podem oferecer conforto, identificação e novas perspectivas. Aqui estão algumas sugestões, com diferentes abordagens:
Livros para compreender o luto e suas etapas:
- “Sobre a Morte e o Morrer” de Elisabeth Kübler-Ross: Um clássico fundamental. Kübler-Ross introduziu as famosas cinco fases do luto (negação, raiva, barganha, depressão e aceitação). Embora essas fases não sejam lineares ou universais, o livro oferece um framework importante para entender as emoções envolvidas na perda.
- “Luto: Acompanhando a Dor da Perda” de Maria Júlia Kovács: Uma obra brasileira que aborda o luto sob uma perspectiva psicológica e acadêmica, mas de forma acessível. Excelente para quem busca um entendimento mais aprofundado do processo.
- “A Cabana” de William P. Young: (Embora seja um romance com elementos espirituais) Este livro aborda o luto de uma forma muito poderosa, explorando questões de fé, perdão e dor após uma perda trágica. Pode ser particularmente útil para quem busca consolo através de uma narrativa.
Livros para encontrar conforto e resiliência:
- “A Magia do Luto” de Megan Devine: Uma terapeuta que vivenciou a perda pessoalmente. Ela oferece uma abordagem honesta e sem clichês sobre o luto, focando na ideia de que não é preciso “superar” a dor, mas aprender a conviver com ela. Muito prático e reconfortante.
- “O Ano do Pensamento Mágico” de Joan Didion: Um memoir tocante e aclamado em que a autora narra o ano após a morte súbita de seu marido e a doença grave de sua filha. É uma reflexão profunda sobre a dor, a memória e a fragilidade da vida.
- “Quando a Respiração se Torna Ar” de Paul Kalanithi: Um memoir de um neurocirurgião diagnosticado com câncer de pulmão terminal. Ele reflete sobre a vida, a morte e o sentido da existência. Traz uma perspectiva única para aqueles que lidam com a perda antecipada ou o luto por uma doença.
Livros para crianças (e adultos que as acompanham):
- “O Luto por uma Pedra” de Lygia Clark: Uma história simples e poética que pode ser usada para explicar a perda de forma delicada, usando a metáfora de uma pedra.
- “O Livro das Emoções” de Todd Parr: Embora não seja especificamente sobre luto, ajuda a criança a nomear e entender suas emoções, o que é fundamental para o processo de luto.
Filmes que abordam o luto de forma direta e profunda:
- “Manchester à Beira-Mar” (Manchester by the Sea, 2016): Um filme poderoso e realista sobre o luto, a culpa e a dificuldade de seguir em frente após uma perda devastadora. É um filme doloroso, mas muito humano.
- “Sete Minutos Depois da Meia-Noite” (A Monster Calls, 2016): Aborda o luto de uma criança que lida com a doença terminal da mãe. Com elementos de fantasia, explora as emoções complexas (raiva, culpa, medo) de uma forma sensível e visualmente impactante.
- “Lion: Uma Jornada para Casa” (Lion, 2016): Embora o luto não seja o tema central, a perda da família de origem e a busca por suas raízes são exploradas, mostrando a dor da separação e a alegria do reencontro.
- “Pieces of a Woman” (2020): Um filme intenso que retrata o luto de uma mulher após a perda de seu bebê durante um parto domiciliar. Aborda a dor profunda, a complexidade das relações e a busca por um novo sentido.
- “Um Dia” (One Day, 2011): Um romance que acompanha a vida de dois amigos ao longo de muitos anos. Lida com a perda de forma inesperada e mostra o impacto duradouro do luto nas vidas dos personagens.
Filmes que oferecem conforto e reflexão indireta sobre a perda:
- “Up – Altas Aventuras” (Up, 2009): A sequência inicial é um dos retratos mais emocionantes de perda e luto em um filme de animação. Mostra como o luto pode nos prender ao passado e a jornada para encontrar um novo propósito.
- “Viva – A Vida é uma Festa” (Coco, 2017): Um filme que celebra a memória dos antepassados e a importância de manter vivos os laços familiares. Embora não seja diretamente sobre luto, oferece uma perspectiva reconfortante sobre a morte e a continuidade da vida através da lembrança.
- “P.S. Eu Te Amo” (P.S. I Love You, 2007): Um romance que explora o processo de luto de uma jovem viúva que recebe cartas do seu falecido marido, ajudando-a a seguir em frente. Oferece uma visão mais leve e romântica do luto.
Escolha livros e filmes que ressoem com você e com o seu momento. Alguns podem ser muito intensos e talvez seja melhor aguardar um melhor momento. Lembre-se que o luto é individual. O que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra. E por fim, livros e filmes são ferramentas de apoio, mas não substituem a ajuda de um profissional de saúde mental, como um psicólogo ou terapeuta de luto, se a dor for muito intensa ou persistente.
Em síntese, o luto é um processo complexo e essencial para a adaptação à perda. Permitir-se vivenciá-lo, buscar apoio e contar com um entorno acolhedor e compreensivo são pilares fundamentais para atravessar essa jornada desafiadora em direção à ressignificação da vida.
https://pbnews.com.br/noticia/45574/dia-nacional-do-luto-data-traz-reflexao-sobre-a-perda-e-o-apoio com livre adaptação
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